Não entendo toda a polémica em torno das declarações de José Saramago. Vivemos num país livre, democrático e LAICO, pelo que, creio que o Prémio Nobel (bem como todo e qualquer comum mortal) tem o direito de expressar o que pensa, desde que não atente contra a dignidade ou o direito de outrem. Até parece que Saramago cometeu um crime imperdoável. Não digo que concorde com as suas declarações, nem isso está em causa aqui, apenas tenho que expressar a minha perplexidade pelo alvoroço que causaram as declarações de alguém que já nos habituou a este género de opiniões, que, para mim, são isso mesmo, opiniões, que, podendo ou não concordar, não me chocam. O que me choca, isso sim, é o puritanismo exacerbado do senhor Eurodeputado do PSD Mário David, ao dizer que Saramago deveria - cito- "renunciar à cidadania portuguesa. Tenho vergonha de o ter como compatriota!" - fim de citação. Tenho de concordar, sim, com a Dra. Edite Estrela quando disse que «fica claro quem ataca a liberdade de expressão», numa declaração proferida momentos antes da votação no Parlamento Europeu de uma resolução sobre a liberdade de imprensa em Itália, quando citou as afirmações feitas por Mário David no seu blog.
Até parece que este senhor matou alguém, participou num acto terrorista ou outro crime semelhante! Deve ser uma pessoa extremamente perfeita este senhor deputado (Eurodeputado!!!) para sentir vergonha de uma pessoa que apenas diz o que quer mas que até agora não cometeu qualquer acto que tenha de lhe ser imputado qual crime, que eu saiba! Não seria mais proveitoso para o mundo se estes senhores, que são pagos por todos nós, se preocupassem com problemas que efectivamente o são, tal como o rapto de crianças, a pedofilia, o desemprego, o branqueamento de capitais..., etc, etc, etc?
Por fim, transcrevo aqui um excerto do prefácio de um livro do Senhor José Saramago, português, Prémio Nobel, prefácio esse escrito por Umberto Eco, cujo texto integral pode ser lido em: Um 'blogger' chamado Saramago, no DN online, como segue:
""Tem-se falado muito do ateísmo militante de Saramago. Com efeito, a sua polémica não é contra Deus: uma vez admitindo que "a sua eternidade é só a de um eterno não-ser", Saramago poderia estar sossegado. A sua aversão é contra as religiões (e é por isso que o atacam de vários lados, negar Deus é concedido a todos, enquanto polemizar com as religiões põe em causa as estruturas sociais).
"Curiosa personagem, este Saramago. Tem oitenta e sete anos e (diz ele) alguns achaques, ganhou o Nobel, distinção que lhe permitiria nunca mais produzir nada porque seja como for já tem no Panteão o seu lugar garantido (o avaríssimo Harold Bloom definiu-o "o romancista mais dotado de talento ainda em vida… um dos últimos titãs de um género literário em vias de extinção"), eis que aparece a manter um blog onde se mete um pouco com toda a gente, atraindo sobre a sua pessoa polémicas e excomunhões vindas de muitos lados - mais frequentemente não por dizer coisas que não deve dizer mas porque não perde tempo a medir as palavras - e talvez o faça mesmo de propósito.""
Sem comentários:
Enviar um comentário